“Se o amor faltou e
causou a doença, dar amor pode curar” - dizia Nise da Silveira
(1905-1999), psiquiatra alagoana.
Inconformada com os
métodos violentos utilizados nas instituições psiquiátricas, ela
passou a explorar as finalidades terapêuticas da arte e do contato
com os animais.
Os desenhos dos
internos que frequentavam os ateliês do Centro Psiquiátrico
Nacional do Rio de Janeiro se revelaram de tal interesse científico
que, em 1952, foi criado um museu para abrigar o acervo. Anos depois,
parte da coleção foi tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.
Obra de Fernando Diniz -
paciente psiquiátrico de Nise
paciente psiquiátrico de Nise
Nise escreveu ao
psicanalista suiço Carl Gustav Jung, seu mestre, e consultou-o a
respeito da enorme semelhança entre as figuras circulares
sistematicamente desenhadas pelos internos e as mandalas – formas
concêntricas que conduzem ao autoconhecimento, segundo as filosofias
orientais. O que intrigava Nise era que, em seu desequilíbrio, os
pacientes esquizofrênicos criassem formas que representam unidade,
organização e harmonia. Jung respondeu a Nise que mesmo a psique
perturbada, fragmentada, possui um potencial reorganizador e curativo
que se configura sob a forma da mandala.
Boa parte dessas
mandalas está exposta no Museu do Inconsciente. Entre elas, muitas
criadas po Fernando Diniz, um dos internos que, considerado doente
crônico, produziu 21 mil obras e revelou que “desenhando tanta
coisa se vai descobrindo tudo”.
Entre literatura, arte
e bichos, Nise encontrou na relação de seus pacientes com animais
outra maneira valiosa de superar a dor. Em vez de tratamentos de
choque, ela optou pela terapia ocupacional. Falava da “emoção de
lidar” e considerava os animais agentes importantes nesse trabalho.
Seu interesse foi despertado quando um vira-lata entrou no hospital e
afetou o dia a dia dos pacientes. Um deles, que mal conseguia falar,
após um tempo de convivência com o cão saiu de seu mundo exclusivo
e pediu para Nise dinheiro para comprar remédio para o animalzinho
que foi atropelado. Ela deu o dinheiro, feliz com sua melhora, e ele
foi a farmácia.
Era apaixonada por
gatos – um deles a acompanhou por 19 anos e foi inspiração para o
livro Gatos – A emoção de lidar (Ed Léo Christiano Editorial)
* Foi pioneira na luta
antimanicomial e pioneira no estudo das relações pacientes e
animais. Seu trabalho foi reconhecido no Brasil, em Portugal, França
e Itália. Sua história, ao meu ver, é exemplar, humana e
fascinante. Aqui deixo apenas um resumo de sua vida, mas com uma simples pesquisa você pode conhecer a grande mulher que Nise foi e o trabalho que seus pacientes deixaram na história.*
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