quinta-feira, 6 de março de 2014

A arte e os animais no auxílio da cura




“Se o amor faltou e causou a doença, dar amor pode curar” - dizia Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra alagoana.

Inconformada com os métodos violentos utilizados nas instituições psiquiátricas, ela passou a explorar as finalidades terapêuticas da arte e do contato com os animais.

Os desenhos dos internos que frequentavam os ateliês do Centro Psiquiátrico Nacional do Rio de Janeiro se revelaram de tal interesse científico que, em 1952, foi criado um museu para abrigar o acervo. Anos depois, parte da coleção foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

  Obra de Fernando Diniz - 
paciente psiquiátrico de Nise

Nise escreveu ao psicanalista suiço Carl Gustav Jung, seu mestre, e consultou-o a respeito da enorme semelhança entre as figuras circulares sistematicamente desenhadas pelos internos e as mandalas – formas concêntricas que conduzem ao autoconhecimento, segundo as filosofias orientais. O que intrigava Nise era que, em seu desequilíbrio, os pacientes esquizofrênicos criassem formas que representam unidade, organização e harmonia. Jung respondeu a Nise que mesmo a psique perturbada, fragmentada, possui um potencial reorganizador e curativo que se configura sob a forma da mandala.
Boa parte dessas mandalas está exposta no Museu do Inconsciente. Entre elas, muitas criadas po Fernando Diniz, um dos internos que, considerado doente crônico, produziu 21 mil obras e revelou que “desenhando tanta coisa se vai descobrindo tudo”.


Entre literatura, arte e bichos, Nise encontrou na relação de seus pacientes com animais outra maneira valiosa de superar a dor. Em vez de tratamentos de choque, ela optou pela terapia ocupacional. Falava da “emoção de lidar” e considerava os animais agentes importantes nesse trabalho. Seu interesse foi despertado quando um vira-lata entrou no hospital e afetou o dia a dia dos pacientes. Um deles, que mal conseguia falar, após um tempo de convivência com o cão saiu de seu mundo exclusivo e pediu para Nise dinheiro para comprar remédio para o animalzinho que foi atropelado. Ela deu o dinheiro, feliz com sua melhora, e ele foi a farmácia.
Era apaixonada por gatos – um deles a acompanhou por 19 anos e foi inspiração para o livro Gatos – A emoção de lidar (Ed Léo Christiano Editorial)



* Foi pioneira na luta antimanicomial e pioneira no estudo das relações pacientes e animais. Seu trabalho foi reconhecido no Brasil, em Portugal, França e Itália. Sua história, ao meu ver, é exemplar, humana e fascinante. Aqui deixo apenas um resumo de sua vida, mas com uma simples pesquisa você pode conhecer a grande mulher que Nise foi e o trabalho que seus pacientes deixaram na história.*

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